Réptil voador tinha asas com apenas 25 cm de comprimento e é o menor já encontrado.
Criatura provavelmente se alimentava de insetos e viveu na China há 120 milhões de anos.
Se algum dia a tecnologia de trazer criaturas extintas de volta à vida chegar ao mercado, os paleontólogos já têm a dica ideal de bichinho de estimação pré-histórico. Que tal trocar seu canarinho por um minipterossauro, mais franzino que um pardal e fácil de alimentar? Pois, brincadeiras à parte, esse réptil voador realmente existiu e acaba de ser revelado ao mundo por pesquisadores brasileiros e chineses.
O bibelô de 120 milhões de anos foi batizado de Nemicolopterus crypticus por Alexander Kellner, Diógenes de Almeida Campos (ambos do Brasil), Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou (os dois do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleontoantropologia da China). O fóssil do animal foi descoberto nas rochas da província de Liaoning (noroeste chinês). A parceria sinobrasileira já vem acontecendo há alguns anos, estimulada pela descoberta de pterossauros em Liaoning e pela familiaridade dos paleontólogos do Brasil com esses lagartos alados. Afinal, o país tem uma das maiores jazidas de fósseis do grupo no mundo, localizada na chapada do Araripe (CE).
Nanico da família
A primeira característica do N. crypticus que salta aos olhos -- ou melhor, não salta aos olhos, já que o bicho é difícil de ver -- é seu tamanho diminuto. Com só 25 cm de uma ponta a outra de suas asas, ele é o menor de todos os pterossauros conhecidos. "Pelo menos essa é a nossa avaliação", afirma Kellner, que é pesquisador do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Existem exemplares menores, mas são todos indivíduos recém-nascidos ou muito jovens. Para se ter uma idéia, há embriões de outra espécie que são maiores do que esse animal", compara.
Comparação do esqueleto com fotógrafo mostra como animal era pequeno em vida (Foto: Sergio Moraes/Reuters)
Há aí, no entanto, uma pequena controvérsia. O espécime estudado por Kellner e seus colegas é, digamos, um adolescente: alguns de seus ossos ainda não estão totalmente fundidos, o que significa que ele poderia crescer um pouco mais antes de chegar à idade adulta. "A minha opinião é que ele não cresceria, mas, mesmo que dobrasse ou quadruplicasse de tamanho, ainda seria minúsculo perto de seus parentes", diz o paleontólogo.
"Minúsculo", aliás, chega a ser eufemismo. Os primos da criaturinha chegavam a ter uma envergadura de asas acima dos 10 m, o que os qualifica como os maiores seres alados que já existiram na Terra. A hipótese dos pesquisadores é que pterossauros pequenos como o N. crypticus teriam dado os primeiros passos evolutivos no surgimento dos grandalhões. Outra diferença intrigante é que, ao contrário de muitos pterossauros maiores, a nova espécie também não tem crista.
"Sem crista provavelmente ficava mais fácil para ele voar entre a folhagem das árvores. E, claro, ele também chamava menos a atenção", avalia Kellner. Para uma criatura desse tamanho, é de fato uma ótima estratégia para não virar almoço.
A criatura provavelmente se alimentava de insetos e é única entre os pterossauros conhecidos por seus pezinhos adaptados a agarrar galhos de árvores -- os dedos das patas traseiras eram curvos. Ao contrário de seus primos maiores, ele parece ter vivido no dossel das florestas chinesas. A única desvantagem para quem os entusiasmados em domesticar o bicho é que, ao contrário das aves de hoje, seu polegar não era virado para trás. "Portanto, ele não ia conseguir ficar em pé num poleiro. Não ia dar pra trocar o papagaio por um desses", brinca Kellner.
O paleontólogo Alexander Kellner durante trabalho de campo (Foto: Divulgação)
A pesquisa que resultou na descrição da nova espécie recebeu apoio financeiro da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro). Réplicas do fóssil do bicho (o original está na China), seu esqueleto reconstruído e uma concepção artística de como ele seria quando vivo vão integrar, a partir de terça (12), a exposição permanente do Museu Nacional.
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