Juliana Elias –
Revista Galileu Ed. 256
Imagem de
ratinhos com tumores imensos inundaram a Europa no fim de setembro. Os animais
comeram por dois anos uma espécie de milho transgênico durante uma pesquisa da
Universidade de Caen, na França. Primeiro estudo de longo prazo feito com a
semente NK603 – uma das mais vendidas do mundo –, ele retomou com força o
debate sobre os riscos desse tipo de alimento.
Após comer milho transgênico, ratos tiveram tumores do tamanho de bolas de pingue-ponge. Em humanos, pouco se sabe sobre as consequências, a longo prazo, para a saúde |
Na pesquisa,
os ratinhos foram separados em grupos que comiam só milho transgênico, milho
normal com herbicida ou transgênico com herbicida. A mortalidade entre essas cobaias
foi até 3 vezes maios, no caso das fêmeas, em comparação com os animais do
grupo de controle – que comiam milho normal e nada de herbicida.
O estudo foi
publicado no Food and Chemical
Toxiccology Review, importante publicação científica, e acompanhou os
animais por 24 meses, enquanto os testes para aprovar transgênicos costumam
exigir apenas 3 meses. “Os primeiros grandes tumores apareceram entre o quarto
e o sétimo mês, ressaltando que o padrão atual de triagem não é adequado”,
dizem os autores da pesquisa, no artigo.
Parte da
comunidade científica e os fabricantes de transgênicos, é claro, questionaram
as conclusões da pesquisa. Alegam, por exemplo, que ela não descreve
detalhadamente a dieta normal dos ratos de controle e inclui poucos animais
nesse grupo. Por isso, a Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos pediu
mais dados aos pesquisadores para emitir uma posição definitiva.
“O relatório deixa várias questões em aberto”,
diz Helaine Carrer, professora da Escola Superior de Agricultura da USP,
lembrando que os transgênicos estão há quase duas décadas no mercado. “Mas as
consequências que o estudo levanta são suficientemente graves e não podem ser
ignoradas.”