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domingo, 27 de abril de 2008

Investimento no Nordeste se diversifica, mas região cresce menos que o país

Nordeste ganha força em mineração, alimentos, petroquímica, combustíveis e confecções.
Apesar disso, Banco do Nordeste prevê crescimento abaixo da média nacional em 2008.

O mapa de investimentos do Nordeste nos próximos anos reflete uma diversificação dos setores que estão voltando seus olhos para a região. Estão previstos novos projetos em petroquímica, combustíveis, mineração, construção civil, agricultura, tecnologia, confecções, logística e agricultura extensiva em diversos estados.

Entretanto, de acordo com o Banco do Nordeste, responsável por projetos de fomento à região, isso ainda não vai ser suficiente para garantir que o Nordeste acompanhe o crescimento médio do país em 2008.

Apesar da diversificação prevista para a região, um estudo conjuntural do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer 4,8% em 2008, enquanto o Nordeste deve registrar expansão de 4,4% no ano.

A indústria está entre os segmentos que têm maior descompasso com o ritmo nacional: em 2007, o crescimento do setor na região foi cerca de 50% menor que o brasileiro.

O estudo mostra que a região ainda é altamente dependente dos repasses do governo federal - 48% dos recursos gastos pelas cidades da região são repassados pelo Fundo de Participação dos Municípios (FPM).

Além disso, o fim da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) também terá impacto negativo para a região. Segundo o Etene, o Nordeste recebia quase o dobro que a arrecadava com a CPMF.

Fernando Scheller
G1
Fazenda no cerrado piauiense: grandes áreas plantadas com soja e milho, apesar da infra-estrutura deficiente (Foto: Fernando Scheller/G1)
Aumento da renda

Boa parte do crescimento e da melhoria da qualidade de vida da região, segundo o Banco do Nordeste, está ligado a programas sociais e de distribuição de renda do governo federal, como o Bolsa-Família e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Foram projetos como esses, segundo o Etene, que permitiram que cerca de 6 milhões de nordestinos fossem promovidos à "classe C" - com renda entre R$ 700 e R$ 1,2 mil - desde 2003. O instituto diz que o crescimento da renda é diretamente proporcional à alta do consumo na região, refletido no movimento das redes de varejo e também no crescimento do segmento de bancos populares na região.

A emergência da classe C na região motivou o empresário mexicano Ricardo Salinas a começar pelo Recife seu projeto de abrir 1,5 mil lojas do Banco Azteca no Brasil. As unidades do Azteca, segundo o diretor-geral do banco no Brasil, Paulo Bezerra, estarão dentro das lojas Elektra, que fazem parte do mesmo grupo. O objetivo é disponibilizar produtos e financiamento no mesmo lugar.

Segundo Bezerra, outra meta do Azteca é atrair novos consumidores nordestinos para o sistema bancário. Para atrair clientes, o Azteca está oferecendo a abertura de conta-corrente com cartão de débito com depósito inicial de R$ 5.

Alimentos

O aumento da renda também influencia o consumo de alimentos na região. O mercado nordestino de alimentos congelados está em alta, o que se reflete em investimentos tanto de grupos nacionais quanto de redes locais.

O diretor da empresa paraibana Guaraves Alimentos, Ivanildo Coutinho, afirma que o frango caiu no gosto do consumidor nordestino, e o consumo de aves vem crescendo muito na região. Por isso, ressalta ele, todos os investimentos no segmento têm mercado certo: “O Nordeste ainda não produz todo o frango que consome.”

As duas maiores produtoras brasileiros de alimentos também perceberam este nicho de mercado. A Sadia vai construir uma fábrica de R$ 250 milhões em Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, enquanto a Perdigão vai erguer dois empreendimentos ao custo de R$ 280 milhões na cidade de Bom Conselho, no mesmo estado. O número de empregos gerado pela Perdigão será de 950, enquanto a Sadia deve criar 1,2 mil vagas.

A Guaraves Alimentos, conhecida no Nordeste pela marca de frango congelado Bom Todo, também está em expansão: a companhia vai inaugurar um novo abatedouro industrial no segundo semestre, ao custo de R$ 150 milhões. Além disso, a Guaraves prevê investir R$ 15 milhões em uma unidade de armazenamento de grãos em Uruçuí, no Sul do Piauí. Os dois projetos vão gerar 650 novos postos de trabalho.

Agronegócio

O investimento da Guaraves em Uruçuí reflete outra transformação ocorrida na economia nordestina: nos últimos dez anos, as áreas de cerrado da Bahia, do Maranhão e do Piauí tornaram-se grandes produtoras de grãos, com destaque para a soja. Coutinho, da Guaraves, explicou que a ida para o Piauí reflete a produção dos grãos que podem ser usados como ração para o frango.

Na passagem da reportagem pelo Sul do Piauí, o G1 constatou que agricultores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste trocaram fronteiras agrícolas já desenvolvidas pelo inexplorado Piauí nos últimos dez anos para multiplicar sua área plantada.

A Fazenda Progresso, uma das mais conhecidas da região, tem área o suficiente para estender suas plantações para até 28 mil hectares - cerca de dez vezes do que é considerada uma fazenda de grande porte em estados agrícolas como o Paraná, por exemplo.

Apesar da infra-estrutura deficiente - nenhuma das estradas de acesso ao Sul do Piauí é asfaltada -, a multinacional agrícola Bunge instalou uma unidade de recebimento e processamento de grãos em Uruçuí. De acordo com os agricultores, a maioria dos grãos comprados pela multinacional tem como destino o mercado nacional, em especial o nordestino.

Fernando Scheller
G1
Laptop produzido pela Bitway, empresa do pólo de tecnologia de Ilhéus: tecnologia a preços acessíveis (Foto: Fernando Scheller/G1)


Têxteis e tecnologia

O aumento da renda no Nordeste também se reflete no setor de confecções. O pólo têxtil do agreste pernambucano tem dificuldades em encontrar mão-de-obra para aumentar a produção de roupas, segundo empresários ouvidos pelo G1.

O pólo de roupas populares movimenta mais de R$ 1,5 bilhão ao ano, segundo a Agência de Desenvolvimento do Estado de Pernambuco. O setor de confecções reúne mais de 12 mil empresas e 90 mil trabalhadores em 13 cidades do agreste pernambucano.

Para atender o público nordestino, o pólo de tecnologia de Ilhéus, no Sul da Bahia, produz computadores “populares” que são vendidos a partir de R$ 800. A empresa Bitway, instalada na cidade, tem uma marca desenvolvida exclusivamente para um grande grupo de varejo da região – as Lojas Insinuante.

A empresa deve produzir 360 mil PCs neste ano, devendo faturar R$ 230 milhões, com alta de 30% em relação à receita de 2007.

Grandes projetos

As duas maiores empresas do país – Petrobras e Vale do Rio Doce – também têm bilionários que pretendem explorar o potencial das reservas naturais nordestinas e o potencial logístico da região, que está mais próxima de dois importantes mercados para produtos brasileiros: os Estados Unidos e a Europa.

Em Pernambuco, a Petrobras está construindo as Refinaria Abreu e Lima e a Petroquímica de Suape, ao custo de R$ 4 bilhões e R$ 1,2 bilhão, respectivamente. O gasoduto Nordeste-Sudeste, que passará pelos estados da Bahia e de Sergipe, terá investimento total de R$ 4,6 bilhões até 2010. A empresa também tem projetos no setor de biodiesel na Bahia e no Ceará, com investimentos de R$ 570 milhões.

No Maranhão, os investimentos da Vale do Rio Doce estão concentrados no setor de logística para transporte do minério até o Porto de São Luís. No ano passado, a empresa investiu R$ 1 bilhão no estado, sendo quase dois terços em transporte: a Estrada de Ferro Carajás recebeu R$ 469 milhões em investimentos, enquanto R$ 277 milhões foram aplicados na área portuária.

www.g1.com.br

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