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sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Não foi por falta de aviso

Manaus (AM), Brasil — Retomada da derrubada da floresta amazônica revela fragilidades estruturais que sempre estiveram presentes na região.

Não foi por falta de aviso. Após três anos em queda, a taxa de desmatamento da Amazônia voltou a crescer no segundo semestre de 2007, como alertava o Greenpeace.

A retomada da destruição da floresta está ligada ao aumento dos preços internacionais de soja, milho e carne e à falta de adoção de medidas estruturantes para neutralizar a expansão da fronteira agrícola sobre a Amazônia, previstas no Plano Nacional de Controle e Combate ao Desmatamento do governo Lula. Em vez disso, medidas adotadas pelo próprio governo – como a descentralização da fiscalização sem que estados estivessem aparelhados para tal e a ampliação de assentamentos em áreas de florestas – ajudaram atiçar uma fogueira acesa pela pressão econômica.

Os dados divulgados ontem pelo Deter, sistema de detecção de desmatamento em tempo real, do INPE, mostram o desmatamento de uma área de 3.235 km2 de floresta amazônica entre agosto e dezembro de 2007. O Deter é um sistema ágil, porém impreciso, que não foi concebido para medir área desmatada, mas para alertar o governo a agir. Ele identifica aproximadamente 40% do desmatamento real. Uma projeção usando os dados do Deter mostra que pelo menos 7 mil km2 de floresta foram destruídos no segundo semestre de 2007. O segundo semestre, principalmente na época de chuvas na Amazônia, normalmente é um período de menor desmatamento.

“A área de 7000 km já desmatada será somada ao que será desmatado no primeiro semestre de 2008 para compor o número final do desmatamento 2007-2008. Se o governo não agir de forma dura e imediata, a próxima taxa de desmatamento anual será um desastre”, diz Paulo Adario, coordenador da campanha Amazônia, do Greenpeace.

Os números mensais de desmatamento estavam aumentando desde maio, empurrados pelo aumento nos preços das commodities agrícolas. “O governo poderia ter agido antes, quando os números estavam em baixa e a pressão sobre a floresta era menor. Agora, fica tudo mais difícil, principalmente porque 2008 é ano eleitoral, quando cai o apetite das autoridades em fiscalizar e punir”, completa.

A taxa de desmatamento da Amazônia, que vinha seguindo uma curva descendente desde 2005, tende a sair do controle se o governo não agir rápido”, disse Adario. Apesar dos esforços do governo em aumentar a governança na Amazônia, grande parte da redução do desmatamento esteve relacionada à baixa dos commodities agrícolas nos anos anteriores. Desde o ano passado, o aumento do consumo de soja na China e do cultivo de milho para a produção de biocombustíveis nos EUA levou a uma redução da área destinada ao cultivo de soja, elevando o preço do produto.

“O desmatamento da Amazônia representa 70% das emissões brasileiras de gases que provocam o aquecimento global. O governo se comprometeu em Bali junto à comunidade internacional de adotar medidas concretas e monitoráveis para controlar o desmatamento. Está mais do que na hora de agir de forma consistente”, disse Adario.

“Para resolver o problema, o Greenpeace recomenda que o governo atue prioritariamente nos municípios em que as taxas de destruição são elevadas e aplique duras punições a fazendeiros que desmataram ilegalmente. É crucial estimular as atividades que gerem emprego e renda mantendo a floresta em pé. É vital também que o governo cadastre todas as propriedades rurais da Amazônia, sem o que será impossível implementar políticas públicas e ambientais eficientes. O governo tem um bom diagnóstico do problema, e sabe onde ele ocorre. O que ele precisa é implementar o seu próprio plano de combate ao desmatamento de forma adequada”, completa Adario.

www.greenpeace.org.br

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