Ki-moon defende busca de novas formas de consumo e indústrias não-poluentes.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou neste sábado (17) que "tesouros" da Terra estão sendo ameaçados pelas mudanças climáticas, citando a Antártida, as geleiras de Torres del Paine e a Amazônia. “As mudanças nessas regiões são tão aterrorizantes quanto as de filmes de ficção científica. São ainda mais [aterrorizantes] porque são reais”, continuou.
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Se nenhuma medida for tomada, diz o relatório, parte da floresta amazônica vai virar cerrado até o fim do século, e o sertão nordestino vai virar um deserto.
Ban Ki-moon presidiu na cidade espanhola de Valência o encerramento da 27ª sessão plenária do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) da ONU, reunido desde segunda-feira (12).
O secretário-geral defendeu o uso de meios "reais e acessíveis" para combater as mudanças climáticas e pediu que os políticos dêem resposta às evidências que os cientistas constataram. Ki-moon defendeu, por exemplo, ir "além" da luta contra a mudança climática, para buscar novos e melhores modos de produzir e de consumir, promover indústrias não-poluentes e avançar para uma "aliança mundial" a favor do crescimento baseado em uma economia verde.
Ban Ki-moon disse que o relatório aprovado pelo IPCC em Valência responde a muitas das questões políticas sobre a mudança climática e afirmou que, agora, cabe aos governos traduzirem essas respostas em ações concretas.
Ele destacou, por exemplo, a importância da reunião da Convenção de Mudança Climática da ONU em Bali, em dezembro, e expressou sua confiança de que, depois de os cientistas terem falado "claramente e com uma só voz" em Valência, os dirigentes políticos mundiais façam o mesmo em Bali.
O secretário-geral da ONU disse ainda que uma ação política "coordenada e sustentada" poderia evitar alguns dos pontos mais catastróficos apontados pelo relatório do IPCC. Ele advertiu que a cúpula de Bali deverá estabelecer um calendário de negociações e confiou em que se chegará a um acordo para que esse processo tenha terminado em 2009.
Ki-moon observou que um dos aspectos cruciais do relatório dos cientistas é que a mudança climática afetará muito especialmente os países em desenvolvimento e apontou que o degelo das geleiras provocará inundações nas zonas montanhosas e escassez de água na Ásia meridional e na América do Sul.
"A mudança do tempo e das temperaturas pode fazer os países em desenvolvimento retrocederem para o poço da pobreza e desfazer muitos dos progressos", disse o principal responsável da ONU. Ban alertou que a resposta à mudança climática não será eficaz se forem sacrificados outros objetivos, entre eles a erradicação da pobreza.
Segundo o relatório divulgado neste sábado, o nível dos oceanos subiu 1,8 milímetro ao ano desde 1961 -- a partir de 1993, o ritmo passou a 3,1 milímetro por ano. As calotas polares e as geleiras, por sua vez, estão derretendo mais rápido, enquanto as tempestades estão mais fortes e mais freqüentes.
O documento confirma que as causas são humanas: a emissão de gases que provocam o efeito estufa aumentou 70% desde 1970. A principal fonte é a queima de combustíveis fósseis, mas a agricultura e a pecuária também contribuem. Nas próximas duas décadas, diz o relatório, a temperatura deve continuar subindo em média 0,2 grau por ano.
Por isso, os cientistas recomendam mais eficiência no uso da energia pelas indústrias, pelos prédios e casas, além de mais eficiência no consumo feito pelos automóveis. Entre as alternativas que podem ser usadas para diminuir as emissões estão a energia solar e até a nuclear, que é limpa em termos de emissões de gases.
O secretário-geral da ONU apelou à comunidade internacional para que volte seus esforços em buscar respostas políticas e não em procurar "culpados". Ele também disse que os efeitos da mudança climática são "tão graves e tão generalizados" que requerem uma ação "urgente e mundial".
Ban Ki-moon considerou que os acordos futuros deverão incluir incentivos para os países em desenvolvimento. Entre esses esforços estão melhores condições financeiras para tecnologias energéticas pouco poluentes, ajudas financeiras para que os países mais vulneráveis se adaptem aos efeitos da mudança e transferências de tecnologias pouco poluentes.
A ONU, disse, quer dar exemplo na luta mundial contra a mudança climática e faz um esforço para que suas operações no mundo todo sejam "neutras" no que diz respeito às emissões de gases que intensificam o efeito estufa.
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