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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Nações em Rápido Desenvolvimento: Brasil

Gabrielle Walker  & Sir David King (The Hot Topic - How to tackle global warming and still keep the lights on | pags.184 a 190)

Controlar o aquecimento global requererá a cooperação do mundo inteiro, mas alguns países desempenharão papéis mais importantes do que outros. Em especial, as mudanças mais importantes terão de vir de dois tipos de envolvidos: o mundo industrializado, que compreende as economias mais ricas e tem a maior parte da responsabilidade histórica pelas emissões feitas até hoje; e um punhado de nações que estão em franco e rápido desenvolvimento e que são, potencialmente, aquelas que mais podem contribuir para futuras elevações nas emissões, enquanto correm para se igualar aos países desenvolvidos.

Talvez faça parte da natureza humada esquecer o que aconteceu antes e focar sobre o que está por vir. Seja como for, a última moda entre esses países é declarar que não faz sentido reduzir as emissões já que qualquer corte será anulado pelas vastas elevações em emissões que virão de países em rápido desenvolvimento, tal como a China e a Índia.

Os número aqui fornecidos de emissões de cada país foram tirados de um relatório encomendado pelo governo britânico a uma firma de consultoria alemã chamada Ecofys. Os números para emissões fornecidos a seguir são todos referentes a gases do efeito estuda calculados com equivalente de dióxido de carbono. Os valores de emissões per capita e total de emissões são referentes ao ano 2004. Dados de emissões ao longo da história são médias anuais per capita de 1900 e 2004, sendo que o cálculo foi feito com os números da população atual.

Brasil
Volume de emissões per capita: 5,3 toneladas por pessoa (mais aproximadamente 7 toneladas por pessoa devido ao desmatamento);
Histórico das emissões: 1,6 tonelada por pessoa;
Total de emissões: 983 megatoneladas  (mais aproximadamente 1.100 megatoneladas devido ao desmatamento) e
Variação no volume de emissões desde 1990: +40,7%.
Retificou o Protocolo de Kyoto? Sim.

O Brasil não precisa ser convencido a gravidade do problema do aquecimento global. Já em 1992 o país ofereceu a cidade do Rio de Janeiro para sediar a primeira Conferência Internacional da Terra, que lançou o processo que acabou levando ao Protocolo de Kyoto. [...] Também é altamente consciente da ameaça potencial que a mudança climática impõe ao Brasil, sobretudo no que diz respeito à redução de produção de alimentos, mudanças forçadas no uso da terra e perda de área de mata. Tal como no caso da Índia, a agricultura brasileira depende muito do clima e é muito sensível a mudanças na temperatura e na precipitação pluvial. O Brasil também tem excelentes cientistas do clima [...].

Apesar de um estágio de desenvolvimento relativamente avançado, sobretudo no Sul do país, o Brasil apresenta números baixos de emissões per capita. Uma razão para isso é o uso de usinas hidrelétricas para a geração da maior parte da sua eletricidade, o que significa que o país tem uma das taxas de emissões mais baixas do mundo. Além disso, depois da crise do petróleo ocorrida nos anos 1970, o Brasil começou a desenvolver o uso de cana-de-açúcar para fazer etanol para automóveis. É hoje reconhecidamente o líder mundial em biocombustíveis, o que significa que as emissões provenientes dos transportes são muito baixas: apenas 0,74 toneladas de equivalente de dióxido de carbono per capita, comparado aos 2,24 do Reino Unido e aos 6,36 dos Estados Unidos. No total, fontes renováveis de energia respondem por 40% do abastecimento energético.

Entretanto, o desmatamento da Amazônia e do Nordeste do país ainda produz enormes quantidades de dióxido de carbono. A maior parte dos dados relativos ao efeito estufa contabilizam apenas emissões derivadas do uso de combustíveis fósseis, mas, no caso do Brasil, acrescentar os números do desmatamento  faz uma grande diferença. O governo brasileiro está alerta quanto a isso e nos últimos anos deus passos significativos no sentido de expandir o alcance das áreas de preservação e impedir o corte ilegal de árvores. Mais de 40% da Amazônia brasileira está agora sob algum tipo de proteção.

O problema é que praticamente não há incentivos econômicos para a prevenção do desmatamento. Segundo consta no Protocolo de Kyoto, países industrializados podem pagar para que o Brasil refloreste áreas como uma maneira de equilibrar os seus próprios excessos de emissões. Mas evitar o desmatamento foi considerado problemático demais e ficou fora do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Qualquer proposta futura teria de fazer proteção às florestas um dos instrumentos da caixa de ferramentas climática. 

Considerando-se as demais emissões brasileiras, a abordagem da contração e convergência requereria uma desaceleração da taxa de crescimento das emissões até 2020 e redução das emissões totais até 2050. A abordagem multiestágios permitiria um espaço para respirar a curto prazo, e a abordagem por setor seria especialmente boa para o Brasil, visto que as suas emissões provenientes da eletricidade já não bastante baixas.