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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Aquecimento global pode prejudicar a América Latina, diz ONU


O Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2007-2008, divulgado nesta terça-feira (27) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), órgão da ONU (Organização das Nações Unidas), revela que os efeitos das alterações climáticas na América Latina e Caribe poderão paralisar ou retroceder o desenvolvimento da região.

Isso se deve às fortes relações existentes entre a luta contra a pobreza e as iniciativas contra o impacto das mudanças climáticas. O relatório do Pnud deste ano leva o título "Combater as alterações climáticas: solidariedade humana num mundo dividido".

Segundo o relatório, os mais pobres serão os mais afetados e os que terão menos recursos para enfrentar os impactos climáticos previstos. Tal situação torna-se evidente quando se compara a situação dessas famílias com outras de rendimento elevado, que dispõem de mecanismos de proteção, como seguro, poupança e acesso a empréstimos.

O diretor de desenvolvimento humano do Pnud, Kevin Watkins, disse nesta terça, no lançamento do relatório em cerimônia no Palácio do Planalto, que a situação pode estar chegando a um ponto crítico. “Podemos estar nos aproximando do ponto crítico que pode levar a um retrocesso da humanidade em saúde e educação. Esse seria um péssimo legado a deixar para as futuras gerações”, disse Watkins O diretor do Pnud sublinhou que são os países pobres os mais prejudicados pela emissão de gás carbônico pelas nações ricas. “Não foram os pobres que criaram a mudança climática, mas são os pobres que estão pagando um preço alto pelas mudanças climáticas”, disse Waktins.

Efeitos
O documento divulgado nesta terça alerta que, durante o século 21, ou um pouco depois disso, as temperaturas globais médias podem aumentar em 5ºC. Para resistir a esta situação, no futuro, será necessário um elevado nível de liderança e uma cooperação internacional intensa, principalmente no que se refere aos países desenvolvidos. Para evitar alterações climáticas perigosas, segundo o relatório, será necessário que as nações mais ricas reduzam as suas emissões de gás carbônico em pelo menos 80% até 2050, com reduções de 30% em 2020. Países em vias de desenvolvimento deverão reduzir as emissões em 20% em 2050.

Elogio
Ao analisar o programa do biocombustível brasileiro, o diretor do Pnud elogiou a matriz energética brasileira por minimizar o impacto da emissão de gás carbônico na atmosfera. Ele disse ainda que o etanol extraído a partir da cana-de-açúcar é mais eficiente do que o modelo a partir do milho, como feito nos Estados Unidos. Uma das sugestões apresentadas por Watkins para limitar o aquecimento global seria taxar emissões de gás carbônico. “O etanol de milho é bem menos eficiente do que o feito da cana-de-açúcar. E esse é o modelo que deveríamos perseguir”, disse Watkins.

Programas sociais
Uma recomendação feita pelo RDH é o fortalecimento dos programas de investimento social para que os países se adaptem às alterações climáticas.

Bons exemplos, segundo o relatório, são os programas de transferências monetárias, incluindo o brasileiro Bolsa Família, que abrange 46 milhões de pessoas, e o Red de Protección Social, da Nicarágua, com resultados significativos perante a recessão dos preços do café.

O relatório destaca ainda os programas de apoio para manter as crianças nas escolas, tais como o Progresa no México e o Programa de Asignación Familiar em Honduras.
Gás carbônico
O Brasil, atualmente, ocupa o 16º lugar no ranking dos principais emissores de gás carbônico. Os dois primeiros lugares são ocupados por Estados Unidos e China. De acordo com o RDH, o compromisso do governo do Brasil, juntamente com uma participação da sociedade civil, foi importante para possibilitar o início do desenvolvimento de um plano integrado, que começou em 2004, para prevenir o desmatamento e assim colaborar na minimização das alterações climáticas. Os dados preliminares para 2005 e 2006 sugerem que a taxa de desmatamento no Mato Grosso, por exemplo, diminuiu cerca de 40%. O relatório recomenda que os países mais pobres incluam a adaptação às alterações climáticas nas suas estratégias de redução da pobreza, uma vez que os ciclos de carbono não seguem os ciclos políticos, sendo necessária uma visão a médio e longo prazo.

Retrocesso
De acordo com o RDH, o retrocesso no desenvolvimento humano da América Latina e Caribe terá efeitos sobre cinco áreas na região. São elas: Produção agrícola e segurança alimentarDesastres climáticos já estão afetando as temperaturas e a disponibilidade de água para a agricultura, em particular em áreas vulneráveis. Na América Latina, podem se esperar perdas significativas na produtividade agrícola. A redução terá efeitos negativos diretos no combate à pobreza. Escassez de águaAmérica Latina e Caribe vão enfrentar sérias ameaças nos recursos de água, devido ao colapso dos glaciais tropicais, especialmente na região Andina. Os glaciais estão derretendo no Peru e na Bolívia em ritmo acelerado. Aumento dos níveis do mar e exposição a riscos climáticosExistem evidências de que as alterações climáticas implicarão tempestades tropicais mais fortes, pois os oceanos, com temperaturas da água mais elevadas, originam ciclones que levam ao aumento dos níveis do mar.

Declínio da saúde
Pesquisas indicam que a saúde não está imune aos impactos provocados pelas alterações climáticas. O reaparecimento da dengue é uma preocupação crescente, especialmente em regiões como a Ásia e a América Latina.


Colapso de ecossistemas

Em 2005, parte oriental do Caribe sofreu um dos piores episódios de branqueamento de corais. O colapso dos corais poderá representar uma catástrofe para o desenvolvimento humano em diversos episódios.