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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Falar de flor


Texto de Marina Silva, ex-Ministra do Meio Ambiente

"Uma flor nasceu na rua!/Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego./Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto./Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu."

Marina Silva (Foto: internet)
Após o paralisante "nada a declarar" de líderes mundiais na Rio+20, é preciso muita poesia para manter a persistência que --como diz o apóstolo-- produz a esperança. E então a acidez singela da poesia de Drummond veio em socorro de minha fome poética. O genial poeta itabirano celebra o nascimento de uma flor na fresta do asfalto, superando a indiferença humana e o pesado invólucro da civilização.

Assim me sinto ao lembrar os intensos dias em que organizações civis e milhares de pessoas manifestaram, no Rio, sua indignada exigência de atenção perante os dirigentes de Estado reunidos na conferência da ONU. Gente de todos os continentes, de jovens ativistas de grandes cidades a líderes de pequenas comunidades indígenas, dando demonstrações criativas, como a "Marcha a Ré" que parou o Rio, de que o mundo quer viver.

Infelizmente, a conferência oficial não ouviu isso. E o poema de Drummond me revela sua dimensão profética, que, feitas as contas, pode ser válida até a Rio+40 se predominar a desdita ambiental das necessidades presentes: "Depois de quarenta anos,/e nenhum problema resolvido, sequer colocado./Nenhuma carta escrita nem recebida./Todos os homens voltam pra casa".

Mas o desafio dos que voltam para casa, décadas após décadas de "Rio+" que se somam sem subtrair os problemas, é extrair a "esperança mínima" de que fala o poeta, para não cair no vazio da queixa que paralisa até os jovens, cuja natureza é andar: Andar à frente,/andar ao lado,/de marcha a ré e atravessado,/enveredando pelo futuro,/no chão dos rastros deixados.
Desde a retomada da democracia vemos o florescimento de movimentos sociais antes abafados pelo autoritarismo, com um ideário amplo que antecipava o novo milênio. Essa é a flor que agora irrompe no asfalto. Sua delicadeza denuncia as rachaduras do sistema que já não consegue impedi-la de brotar.


Chegou a hora de a sociedade tomar iniciativas próprias, buscar autonomia e independência. Sem recusar nem desconhecer a política e o Estado, ir além deles e fazer mudanças na vida com a noção ampla de um novo contrato natural --pois inclui os demais seres vivos e ecossistemas--, não só um contrato social. Conseguiremos? Estamos maduros para o que o tempo nos exige?

Aqui se revela a necessidade da utopia, que ultrapassa as ilusões limitantes do pragmatismo e reafirma a força da esperança, sem a qual não há futuro. No fim das contas --Drummond sabia--, é a poesia que faz brotar a flor.

folha.uol.com.br/colunas/marinasilva

Rio + 20 = 0

O texto é de Guilherme Fiuza, depois que li tornei-me fã desse cara!



Guilherme Fiuza

Às vésperas da conferência Rio-92, 20 anos atrás, o secretário-geral da Cúpula da Terra, Maurice Strong, sentenciou: “Esta é a nossa última chance de salvar o planeta.” Agora, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, avisa que a Rio + 20 é a “única oportunidade” de garantir um futuro sustentável. Do jeito que as coisas vão, a Rio + 40 será a última oportunidade de salvar o mundo dos ecoburocratas, que estão cada vez mais contagiosos e letais.

Os negociadores dos mais de 130 países representados na conferência estão preocupados. Vários deles já disseram que a grande questão a ser decidida na Rio + 20 é quem vai financiar o desenvolvimento sustentável, com quanto dinheiro. E que não há acordo à vista sobre isso. Talvez seja necessário responder a outra questão antes dessa: quem vai nos salvar dessas festas ecológicas milionárias que não decidem nada? Quem vai dar um basta nesses banquetes insustentáveis que discutem sustentabilidade?

Ninguém segura a patrulha da bondade e seu alegre circo do apocalipse. No picadeiro da salvação sempre cabe mais um. É aquela oportunidade valiosa para os ativistas de si mesmos descolarem mais um flash por um mundo melhor. O oportunismo é verde. Cientistas políticos gritam que o tempo está se esgotando, artistas buscam sofregamente algum bordão conceitual, mesmo que se atrapalhem um pouquinho – como na célebre frase de uma cantora de MPB em momento ético: “O problema do Brasil é a falta de impunidade”.

Enquanto a feira de lugares-comuns e o show de auto-ajuda planetária evoluem na avenida, o mundo piora. A crise nascida na Europa veio mostrar que a farra estatal é boa, mas um dia a conta chega. Com a licença dos ecologistas: pode ser a última chance de se descobrir que não é o Estado que sustenta a sociedade, mas o contrário. E que não existe Estado forte com sociedade fraca. Pois é nesse momento de alerta contra os governos perdulários que se monta o colossal almoço grátis da Rio + 20. Um banquete para discutir o desperdício. Haja sustentabilidade.

O que quer a faminta burocracia verde, com seus sábios fashion de bolinha vermelha na testa e seus relatórios sobre o fim do mundo? Quer a Bolsa Ecologia. Quer mais dinheiro do contribuinte para mais relatórios, mais comissões, mais mesadas para ONGs, mais conferências coloridas e animadas. Enquanto isso, a vida real vai muito bem, obrigado, para monstros como a usina hidrelétrica de Belo Monte – uma estupidez ecológica, uma aberração econômica e um monumento ao desperdício estatal. O custo cada vez mais insustentável da energia nuclear também não é problema para os abastados anfitriões da Rio + 20, como indica a construção de Angra 3 – cujo lixo radioativo tem garantia até a Rio + 2020. Passaporte para o futuro é isso aí.

Duas décadas de sustentabilidade conceitual não chatearam os vilões reais. Na Rio-92 foram assinadas as Convenções de Biodiversidade e do Clima. A primeira instituiu o direito das populações tradicionais sobre o patrimônio genético de suas terras. Enquanto a biotecnologia progride, os povos da maior floresta tropical da Terra continuam a ver navios no Rio Amazonas. Os royalties que conhecem de fato são os do contrabando de madeira – porque infelizmente não podem se alimentar de convenções. Já a Convenção do Clima gerou o que se sabe: uma sucessão de protocolos sobre redução das emissões de gás carbônico. Cada um é mais severo que o anterior, devidamente descumprido. Com novos prazos de carência, as metas vão ficando mais ambiciosas, numa espécie de pacto com o nunca.

E aí está a patrulha da bondade em mais uma conferência planetária, reunindo os melhores especialistas internacionais em sustentabilidade e sexo dos anjos. Eles vão dizer que o mundo vai acabar e a culpa é sua. Vão mandar você deixar seu carro na garagem e tomar banho rápido. Não vão falar em controle populacional, porque isso é de direita. Eles são progressistas, sociais, amam cada um dos 7 bilhões de habitantes da Terra, que serão 10 bilhões até o fim deste século, todos muito bem-vindos.

O problema, claro, é do capitalismo individualista, cheio de egoístas que demoram no banho. Serão precisos muitos banquetes ecológicos para mudar essa mentalidade.

ÉPOCA – edição 735

terça-feira, 26 de junho de 2012

Volta das sacolas plásticas aos supermercados

Marcus Farah

A alegria do meio ambiente durou pouco! A justiça determinou a volta das sacolas plásticas aos supermercados de São Paulo, dizendo que os consumidores estão sendo prejudicados, como mostra a notícia a seguir:

Justiça determina volta das sacolas plásticas aos supermercados paulistas

Ministério Público alega que a proibição das embalagens estava onerando indevidamente os consumidores

Justiça determina volta das sacolas plásticas aos supermercados paulistas Daniela Xu/Agencia RBS
Supermercados paulistas terão de fornecer gratuitamente as sacolas de plástico 
Foto: Daniela Xu / Agencia RBS
Banidas desde o início do ano sob a alegação de poluir o ambiente, as sacolas plásticas estarão de volta aos supermercados de São Paulo. A juíza Cynthia Torres Cristófaro, da 1ª Vara Central da capital paulista, determinou na segunda-feira que os estabelecimentos comerciais restabeleçam gratuitamente, no prazo de 48 horas, a distribuição das embalagens usadas pelos consumidores para transportar suas compras.

Também foi dado um prazo de 30 dias para que os supermercados forneçam, igualmente de forma gratuita e em quantidade suficiente, embalagens em material biodegradável ou de papel para acondicionamento das compras.

A decisão atende a uma ação civil pública impetrada pela Associação SOS Consumidor Consciente contra a Associação Paulista de Supermercados (Apas) e as redes Sonda, Walmart, Carrefour e Companhia Brasileira de Distribuição.Também acolhe entendimento do Ministério Público paulista de que o consumidor foi onerado com a suspensão da distribuição das sacolinhas. Com o fim das sacolas plásticas, os supermercados passaram a cobrar até R$ 0,59 por embalagens retornáveis. A Apas anunciou que vai recorrer da sentença.

Juíza pôs em dúvida a alegação de proteção ambiental com o fim das sacolas

 
"A solução adotada pelos supermercados com o propósito declarado de atender a preocupação ambiental acabou por onerar excessivamente o consumidor, a quem se impôs com exclusividade todo o desconforto produzido", diz a juíza na sentença.

Na decisão, a juíza criticou o fato de os supermercados não terem diminuído o preço dos produtos, retirando o custo do fornecimento gratuito da embalagem, mesmo sem a obrigação de fornecer as sacolinhas. A juíza também pôs em dúvida o compromisso ambiental alegado pelos supermercados, que continuaram a utilizar embalagens de plástico para outras finalidades.

Na segunda-feira, a Apas chegou a apresentar ao Ministério Público e ao Procon paulistas propostas para compensar o fim das sacolas plásticas. Uma delas era oferecer ao consumidor três tipos de sacolas reutilizáveis — de papel, de um material biocompostável, fabricadas com amido e biodegradáveis, e as recicladas, fabricadas com sobras de plástico em indústria. Essas sacolas custariam entre R$ 0,07 ou R$ 0,25, em uma previsão inicial feita pela Apas.

Mais de 1,1 bilhão de sacolas deixaram de ser distribuídas, dizem supermercados 

Segundo o presidente da Apas, João Galassi, 90% das compras são feitas nos supermercados paulistas com as sacolas reutilizáveis. Galassi disse que a entidade pretende fazer campanhas para conscientizar o consumidor, desestimulando o uso de sacolas plásticas. Conforme a associação, desde abril deixaram de ser distribuídos 1,1 bilhão de sacolas plásticas nos supermercados de São Paulo. Galassi disse ainda que a cobrança pelas sacolas tem um efeito educativo.

— Quando os preços das sacolas estão embutidos (no valor da mercadoria), tem-se a percepção de que não se paga por elas e isso vira um grande desperdício no uso dessas sacolas. Quando se tem os preços explícitos, as pessoas percebem que as sacolas têm um custo e há redução drástica no consumo — explicou.

O presidente da Apas garante que a economia de custos com o não fornecimento das sacolas é repassada ao consumidor.

— O setor é muito competitivo. É do interesse do supermercadista reduzir custos para competir, ganhar a confiança e ter mais consumidores — justificou.

Notícia retirada do site: Zero Hora